quinta-feira, 16 de junho de 2016

Crônica sobre objeto

Eu deveria estar na praia!
Pedro Goifman - 8o. Ano

       Eu deveria estar na praia! Sério... Eu sou uma esteira que serve para as pessoas deitarem na praia. Por isso eu deveria estar lá.
            Ao invés de estar na praia, tomando aquele sol delicioso no corpo e com pelo menos uma pessoa descente em cima de mim, eu estou aqui: trabalhando numa escola e servindo para que criancinhas sentem em cima de mim. Elas são nojentas!
            Eu as recebo no período de recreio, na entrada e na saída delas, quando  param de estudar e ficam esfomeadas. Algumas demoram um pouco mais. Ouvi falar que estas compram lanche numa tal de cantina que não sei direito o que é. As outras, pelo jeito, trazem o lanche das próprias casas e sempre ficam com eles, por isto chegam rápido.
            A pior coisa não é nem eles comerem. O pior é que eles não me dão nem uma mordidinha sequer, e quando eles deixam a comida em cima de mim elas ficam em recipientes que não consigo pegar.
            Tirando todas estas coisas horríveis eu ainda trabalho muito, fico guardada em uma salinha onde tem roupas e cadernos que as vezes entram e as vezes saem. Lá também tem esteiras iguais a mim só que de outras cores. Todas listradas. Eu sou a mais bonita, sou azul e vermelha! Minha melhor amiga é verde e rosa. Ela é feia.
Mas voltando ao assunto de trabalhar muito, um homem careca, que veste uma camiseta cinza e é gordinho sempre me pega nesta sala cedinho e me leva até perto de uma grade que fica em frente a entrada. Fico o dia inteiro lá, parada. Na hora do recreio as crianças vem, ficam uma eternidade sentando, deitando, andando e até pulando em cima de mim. É um saco. Quando chega aproximadamente 18h30 o gordinho careca de camiseta cinza me pega, junto com minhas amigas, e me leva para a salinha.
Durante o meu trabalho as horas parecem demorar muito, muito mesmo. Logo de manhã as crianças entram me atropelando, odeio isso, um sinal toca, elas vão embora. Depois de relaxar um pouco e alguns sinais tocarem toca um sinal específico. Dá para sentir que este sinal não é bom e, então, as crianças voltam, comendo e bebendo, enquanto seus narizes escorrem e elas babam. É realmente muito nojento. Um sinal toca e elas saem. Mais uma vez eu tenho um tempo para relaxar até que um outro sinal toca, o pior sinal de todos, um sinal assustador.
As crianças começam a chegar novamente e ao mesmo tempo outras crianças entram e aquilo é um show de horrores: crianças babando, pulando, sentando, deitando, andando, correndo, com nariz escorrendo, etc. Algumas crianças saem e toca um sinal. De repente, todas desaparecem.
            Mais um momento de descanso e elas voltam: um terror! Toca um sinal, elas saem logo depois, no próximo sinal que é em cinco minutos outras vem, mas essas são mais educadas, não mexem comigo. São mais velhos, um tal de Fundamental II. Quando eles saem tem um bom tempo para eu relaxar e as mais chatas vem de novo, um tal de Fundamental I. Elas vão embora e após vinte minutos o Fundamental II entra e sai e, por fim, acaba. Me levam de volta para a salinha e eu durmo. Bem que eu queria estar na praia.